segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Ser Árvore

 


Foto: Instagram

Há tempos eu observo o ciclo das árvores de perder suas folhas e reflorescer. É lindo deixar ir e se renovar. Ultimamente eu tenho me sentido árvore. Em meio a natureza eu fecho os olhos, eu inspiro, sinto o sol na minha pele, sinto a brisa. Há uma magia inexplicável nisso tudo: vida. Eu ouço os pássaros. Você pode dizer que só o ser humano pode sentir e ouvir, que uma árvore é incapaz de perceber tudo isso. Mas eu te garanto que tem muito mais árvore conectada ao universo do que muito ser humano por aí.

Eu mesma, anos atrás, nessa mesma posição estava com a cabeça barulhenta, cheia de angustia sobre o futuro, remoendo um passado que não foi como eu gostaria que tivesse sido. Desconfortável com o presente que não era exatamente como eu tinha planejado. Totalmente sem raízes. Hoje eu ando descalso e sinto o frescor da grama ou a aridez e secura da terra sob os meus pés. Eu fico imóvel, eu fecho os olhos. Eu me sinto árvore. Talvez de tanto abraçar ávore por aí eu tenha adquirido a capacidade de me imaginar árvore. É troca de energia que fala, né?

Se sentir árvore traz uma paz. Bah! Feche os olhos e observe o sol nascer e se por. Perceba apenas luz e sombra. Frio e calor. Vento e calmaria. A complexidade da vida que o ser humano criou inexiste. Apenas dicotomias da natureza. Até mesmo eu, árvore centenária, às vezes tiro os pés do chão tamanha é a tormenta ao meu redor. Até mesmo eu, com raízes tão profundas, perco o chão. Me revira de cabeça pra baixo o vendaval que transforma a vida de todos.

Ser árvore é não se mover e participar de todo movimento ao seu redor. É não criar mas ser criadora. Um dia árvore, outro dia móvel. Um dia árvore, outro dia papel. Um dia árvore, outro dia alimento. É transformar o ar, é ser sombra, é ser abrigo, é ser apoio. Ser árvore é estar ali imóvel para se doar. Servir.

Ser árvore é ser testemunha. Do cão que urina nos meus pés. Da criança que balança no meu galho. Do casal que tatua um coração com seus nomes no meu casco. Do lenhador que vem buscar fogo. Do passáro que vem fazer ninhada. Do seringueiro que vem buscar papel. Da mulher que vem buscar conexão. Ela se ajoelha. Me abraça. E existe comigo.