domingo, 3 de abril de 2011

Campanha nem lá nem cá

A todos campanhenses que saíram de casa
Foto/Reprodução: Instagram

Meu maior erro foi sair de casa trazendo fotos. Me agarrei às lembranças por achar que elas me diriam quem eu sou. Mas não, justamente por elas, não sou ninguém. Eu precisava ter vindo vazia, nua, aberta. Agora não sou ninguém, nem aquela nem essa. Nem mineira, nem paulistana. Uma mistura dos dois e ao mesmo tempo nada. Tinha que ter vindo sem nada, como um cão enxotado de casa. Ter morrido na partida e nascido na chegada. Mas vim meio viva, meio morta. Viva de alegria pelo novo, viva de esperança pra encontrar um lugar melhor. Viva de anseios, viva de medo.

E essa cidade mesmo cinza, sem estrelas, sem aquele cheiro de mato, não me assusta mais, na verdade nunca me assustou... Eu vim pra cá foi pra brigar mesmo! O que me incomoda mais aqui é a poluição sonora... Nem é a sujeira das ruas, o ar impuro, o rio podre ou o trânsito caótico... É a falta de silêncio mesmo... Essa cidade às vezes me sufoca, parece que quer me expelir. Eu resisto, luto bravamente... Fico. Mas às vezes sou eu quem quero fugir... Mas vou fugir pra onde? Eu já não estou em lugar nenhum... Estou sempre no meio da estrada, no meio do caminho... Perdida entre lá e cá. É uma sensação de estar perdida no limbo. Ou eu vivo o ontem ou eu vivo o amanhã. O hoje nunca existe...

Mas vim meio viva, meio morta. Morta de saudades. Morta de sonhos. Às vezes mato a saudade, ou melhor, me mato. Porque pra matá-la, só acabando comigo ou ela não voltaria assim que chego do outro lado da estrada. Saudade tem quantas vidas? Ela sempre ressuscita... Mas o que me incomoda mesmo não é a saudade de cá ou de lá, é essa vontade de estar em dois lugares ao mesmo tempo. De me dar para os dois e não estar em nenhum. O que me incomoda mesmo é a certeza de que qualquer que seja o lado, na outra margem sempre haverá reclamação. E eu fico ali suspensa no limbo, nem lá nem cá...