terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Misteriosa Máquina Humana

Um peso enorme pairou sobre minhas costas e meu corpo começou a ficar dormente. Percebi que ia ficar imóvel, na verdade já estava. Fazia uma força imensa pra me mexer, mas era impossível, era como se houvesse toneladas em cima de mim, não pesava, mas me tornava imóvel. Lutava entre dormir e acordar, estranhamente tentei me entregar ao sono e também não consegui.

O desespero foi tomando conta da minha mente a partir do momento em que percebi que eu não podia controlar meu corpo, que podia sequer obedecer a minha própria vontade. E nesse momento eu precisei lutar comigo mesma, ou com aquela energia que tentava me fazer sucumbir.

Podia ser um sonho ruim, mas eu estava consciente. Quando consegui recobrar o autocontrole, ou pelo menos, a sensação de perceber e modificar o que estava acontecendo comigo, notei que meu coração estava mais acelerado do que o de costume, aliás de uma forma que me assustava. Demorou um pouco, mas eu respirei fundo, calmamente, para que meu coração voltasse a bater na velocidade "normal". E foi neste momento que percebi que ainda não podia me mexer.

Pânico! Eu precisava me acalmar ou meu coração dispararia novamente. Eu precisava me mexer mas forçar meu pensamento para comandar o corpo a fazer isso desviava minha atenção do coração e eu tinha medo que ele saísse correndo novamente.

Percebi nesse dia que eu não era capaz de controlar meu próprio corpo e que se dependesse de mim todo o sistema entraria em colapso, porque eu não saberia controlar todos meus órgãos ao mesmo tempo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Olhos recicláveis

Foto/Reprodução: Instagram

Mesmo tendo habituado meus olhos a verem só o que eu quero, às vezes me escapa o filtro, e acabo vendo aquilo que todos fazem questão de não enxergar: os homens invisíveis, as crianças invisíveis, as mulheres invisíveis. Estes só tomam forma quando lhe roubam o sossego ou por um descuido do olhar...

17:45, dia ainda claro, uma rua do Itaim Bibi... Pela calçada a maioria dos homens estavam engravatados e as mulheres de tailleur. Pela rua passavam alguns carros populares e muitos carros de luxo. Um dia normal, num lugar cotidiano...

Estava parada num ponto de ônibus, prestando atenção nos carros que vinham, meio zonza com o movimento até que um utilitário torto, desbotado, fazendo barulho parou ali. Saltou dele um garoto magrelo, moreno, muito magro, com movimentos bruscos dos membros e um chinelo escorregadio no pé, talvez uns quatro números maior que seu pé... me causava repulsa... e só.

Aquela cena me incomodava... destoava... mas logo passou... depois de recolher todas as caixas de papelão que estavam no lixo, com os mesmos movimentos bruscos, o chinelo torto e a camisa furada, o garoto entrou no utilitário, bateu a porta e com um arranco saiu dali.

Pisquei os olhos e o filtro se instalou novamente... continuava a esperar o ônibus que veio em alguns minutos...

Entre uma Santa Fé, uma Vera Cruz, um Audi Q7 e uma BMW M3, lá estava a chevrolet C10 1970 com uma carroceria de madeira, desta vez com o muleque torto em cima dela, dobrando os papelões que outrora jogou ali dentro.

E agora já não me causava repulsa... mas indginação.