sábado, 5 de maio de 2018

Lua Minguando

Foto/Reprodução: Instagram

Minguar: tornar-se menor, ou menos abundante; diminuir, reduzir-se, escassear.

Verbo transitivo direto e intransitivo.
Em transe, me esvaia de mim mesma.
Lua em escorpião, casa 8, minguando pela morte de um eu que se desfazia na imensidão do céu.
Sentia um emaranhado de emoções que não fluíam, era necessário deixar ir.
Tudo estava tão confuso que era impossível pegar qualquer emoção para expurga-lá.
Pensei logo, culpa da lua. Tenho me sentido extremamente regida pelas fases deste astro.
A mesma lua que me encheu de luz e brilho na sua fase cheia tem me feito minguar esta semana.
Que noite exaustiva. Era como um parto de um ser que não existia. De algo que jamais fecundou.
De fato, um ser que se foi. Descobri que pior que não ser o ser que fui ainda não sou um novo ser. Estou me transformando.
Na fase que se esvai tudo.
Fui até a janela pra procurar a lua. Ver através dela a fase que me encontro e entender o que eu sentia.
Não encontrei.
Céu vazio.
Forma escondida.
Era assim que eu me sentia. Queria me esconder e me sentia vazia.
Eu procurava uma lua branca, cheia, iluminada e no topo do céu.
Olhar errado.
Essa forma que eu procurava já não existia. Se foi. Céu vazio, escuro e sombrio.
Voltei pro meu sofá com um nó na garganta.
A angústia era tanta que eu queria sair do meu próprio corpo. Transcender. Voar.
Eu precisava de ar. Voltei a janela para fumar.
Foi aí que sem procurar nada no céu. Sem expectativas e formas pré definidas. Lá estava ela.
Vi vários pontos vermelhos no céu como se tivessem soltado fogos de artifício.
Achei estranho. Parecia fogo no céu. Queimava mais que o sol.
Firmei a vista pra ter certeza.
A superfície da lua, independente de sua fase, mostra sempre seu contraste das terras altas e mares.
As terras altas são iluminadas e os mares, resultado dos grandes impactos de meteoritos, são sombrios.
Eis que essa parte sombria da lua, hoje, se camuflava com o tom cinza escuro do céu de São Paulo, sujo.
Eu, com os olhos firmes e fixos naquela forma que se desmanchava via toda minha história se queimar naquele vermelho larva.
Lá estava a lua a minguar. Lá estavam todos os meus karmas a queimar.
Vermelha, sangrando, baixa, grande, ebulindo em emoções indefiníveis, irreconhecíveis. Pela metade.
Me esvaindo de tudo que me encheu na última semana.
E eu me perguntava o que dali iria restar.
Lembrei que assim como as árvores que deixam ir as folhas no inverno pra reflorescer, ali estava a lua no seu ciclo de deixar ir o que não lhe pertencia mais.
Me acalmei. Aceitei tudo. Me reconectei e deixei fluir.
A transcendência que eu precisava era a transmutação que acontecia.
Agradeci tudo que já se passou, me perdoei e lembrei que depois de minguar a lua nova há de brilhar com um novo ser.
Transformação.

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