terça-feira, 20 de março de 2012

Luzia

Foto/Reprodução: Instagram

Nem um nem outro. Luzia dormia com as luzes acesas. Apagava. Gostava das madrugadas, a sua sombra se liquefazia com a sombra do quarto, com a sombra do mundo. Com as luzes apagadas podia ser uma só com tudo e assim perdia a noção de limite que o corpo e a sociedade lhe impunham. Gostava de músicas tristes. As alegres, só a faziam perceber o quanto era triste. Ser triste era uma alegria.

Tinha medo do mundo. De tudo que a pudesse tocar. Sombras se impunham num mundo que ela tentava construir. Antes ser sombra de si mesmo do que sombra dos outros... pensava quando apagava a luz... Às vezes se sentia mas sombra do que gente... De fato era melhor... podia se ver liquefeita no mundo, como um perfume diluído no ar, como uma brisa entre as folhas que se dispersam na rua. Não linear, sem limites físicos. Estar viva era seu maior limite.

Pensava enquanto caminhava sobre o quanto éramos limitados por estarmos vivos. Que se a gente pudesse se liquefazer um com os outros as sensações seriam mais completas. Mas a pele nos impede, a carne nos impede... Ambas nos passam a falsa sensação de que estar vivo é que nos permite sentir qualquer coisa.

Às vezes pensava que não existia. Era sua melhor fuga. Pensar que não existia lhe dava a maior liberdade possível enquanto viva. Se ela não existia, nada luzia...

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